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5 lendas sobre nossa fauna

Nesta semana se comemorou o Dia do Folclore, 22 de agosto, data que celebra a cultura popular do nosso país. Grande parte do folclore brasileiro é composta por lendas – histórias da origem da coisas ou com lições para os mais jovens, passadas de boca-a-boca e de geração em geração. Iara, Cuca, Saci, Curupira, Boitatá, Mula-sem-cabeça e companhia são conhecidos de todo mundo. São histórias sobre seres que protegem as matas e rios, e também de seres que devem ser evitados e nos ensinam a tomar cuidado com o que não conhecemos.

O que talvez passe mais batido é que, além dessa fauna de fantasia, nossas lendas são habitadas por outros seres bastante reais: nossa flora. Fonte de alimento, medicina, adereço e matéria-prima, o reino vegetal tem uma grande importância em todas as culturas, e na nossa não seria diferente. As plantas cumprem diversas funções na nossa vida, a mais valorizada sendo, sem dúvida, a de nos alimentar. De frutas a flores, de plantas aquáticas a palmeiras compridas, com essa importância e variedade toda é claro que nosso folclore tem histórias de muitas delas pra contar.

Abaixo, selecionamos 5 das nossas lendas preferidas sobre a flora brasileira para dividir com você.</p>

1 – Vitória-Régia

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Imagem de Robert Balog por Pixabay

Vitória-Régia, nativa e símbolo da região amazônica do Brasil, é uma planta aquática exuberante e bonita. Os povos indígenas da região a conhecem como Uapé, Iapucacaa, Aguapé-assú, Jaçanã, ou Nampé. Os índios guaranis ainda a chamam de Irupé. Sua lenda, muito conhecida no norte do país, conta uma história de amor entre uma jovem guerreira e um deus.

Na mitologia, a Lua era um deus que adorava encantar jovens moças e levá-las consigo sempre que se escondia. Diz a lenda que uma jovem índia, de nome Naiá, se apaixonou pelo deus Lua e tinha vontade de ser levada por ele. Os mais experientes da tribo diziam a Naiá que as jovens levadas pelo deus nunca retornavam às suas famílias, pois tornavam-se estrelas. A jovem guerreira ignorava os avisos porque seu amor pela Lua era maior que seu medo de nunca retornar, e não via nada de ruim em tornar-se estrela.

Naiá foi ficando cada vez mais obcecada pela Lua e sua paixão perdendo o controle. Num certo dia de luar muito bonito, a jovem passava por um lago quando viu o reflexo da Lua. Pensando ser seu amor, ela se joga nas águas tentando desesperadamente ser levada pelo deus. Ao perceber que se tratava somente de uma ilusão, Naiá tenta voltar à superfície mas não consegue, acabando por morrer afogada.

O deus Lua, entendendo o amor de Naiá e triste pelo trágico destino, resolve transformá-la numa estrela, porém não numa estrela qualquer, uma que estivesse sempre perto das águas. E assim Naiá se torna a primeira vitória-régia, com suas grandes folhas redondas e sua flor estrelada que só se abre à noite, a admirar a lua.

2 – Guaraná

Na lenda que conta a origem do guaraná, as personagens são um casal indígena que não conseguia ter filhos. Após rogarem ao deus Tupã por um filho, o casal é agraciado com um menino forte, bonito e saudável, querido por todos na tribo.

Jurupari, o deus da escuridão, logo passou a sentir inveja das habilidades do menino e resolveu que o mataria. Numa emboscada enquanto o pequeno colhia frutas, Jurupari transformou-se em serpente e atacou o menino. Tupã tentou alertar os pais com trovões, mas quando eles finalmente encontraram o menino, o veneno de Jurupari já o havia matado.

Tupã então disse aos pais que plantassem os olhos de seu filho e que deles nasceria uma planta. O fruto da planta daria energia do menino a quem o consumisse.

À imagem dos olhos negros do menino, ali nasceria o guaraná, frutinha que hoje é sinônimo de Brasil.

3 – Mandioca

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Imagem de Maya A. P por Pixabay

A lenda da mandioca, também pertencente ao universo de mitos indígenas, conta a história desta raiz que é base da alimentação de muitas pessoas.

Certa vez, a filha de um chefe de uma tribo Tupi ficou grávida. Intrigado com a situação pois ela ainda não era casada, o chefe questionou a filha para descobrir quem era o pai da criança. A filha do chefe dizia que também não sabia como ficara grávida e isto deixava-o furioso.

Certa noite o chefe foi visitado durante um sonho por um espírito que o aconselhou a acreditar na filha. Tocado pelo sonho, ele aceitou a gravidez da moça e teve sua linda neta, de nome Mani.

Mani era uma pequena menina de pele muito clara. Sorridente e adorada por toda a tribo, sua alma era leve e alegrava todos com sua presença. Uma manhã ao acaso, a mãe de Mani e filha do chefe acordou e encontrou a filha morta, a menina morrera durante o sono. Isto causou uma tristeza profunda na filha do chefe que resolveu enterrar a menina no solo de sua casa onde dormia.

Os dias passavam e a tristeza da mãe de Mani era profunda, punha-se dias e noites a chorar, e suas lágrimas regaram o lugar onde a menina estava enterrada. Um dia ela viu que brotavam plantas no local, desesperada, achou que aquilo era um sinal de que sua filha estava viva e começou a cavar na esperança de desenterrar Mani. Cavando, o que ela encontrou foi uma raiz, que era marrom por fora mas por dentro era branca como a pele de Mani. A raiz recebeu o nome Mani-oca, que em tupi quer dizer “casa de Mani”.

4 – Açaí

Outra lenda que começa de forma um pouco trágica, a das origens do açaí vem do estado do Pará. Muito tempo&nbsp; antes do estado ter esse nome, na região onde hoje é Belém, vivia uma tribo indígena muito numerosa – tão numerosa que os alimentos cultivados ali já não bastavam para alimentar a todos.

O cacique da tribo precisou tomar uma decisão dura e determinou que todos os bebês nascidos dali em diante deveriam ser sacrificados. Um dia, Iaçã, a filha do cacique, deu à luz uma menininha, que foi sacrificada como os outros recém-nascidos. Iaçã ficou inconformada – chorava dia e noite e pediu a Tupã que mostrasse a seu pai outro caminho, que não o sacrifício das crianças.

Numa noite de lua, Iaçã ouviu o choro de uma criança e, seguindo-o, se deparou com sua filhinha, sorridente aos pés de uma palmeira esguia. Emocionada, Iaçã atirou-se para abraçar sua filha, mas a garotinha sumiu no ar como se nunca tivesse estado ali. Após muito chorar, Iaçã desfaleceu. Seu corpo foi encontrado na manhã seguinte, ainda abraçado à palmeira. Iaçã sorria e seus grandes olhos negros estavam fixos no alto da palmeira.

A árvore estava carregada de frutinhas redondas e tão escuras quanto os olhos de Iaçã. O cacique disse que colhessem as frutas, que depois foram amassadas e produziram um vinho avermelhado. A bebida e a fruta, em homenagem a Iaçã, foram logo batizadas de açaí – e foi com ela que o&nbsp; cacique pode alimentar sua tribo, suspendendo o sacrifício dos recém-nascidos.

5 – Erva Mate

A erva-mate (ou congonha), como o guaraná, é sempre sinônimo de energia. No tererê, chimarrão ou chá, essa planta originária da América do Sul oferece uma dose certa de cafeína pra pra dar um empurrãozinho no dia.

Séculos atrás, os indígenas do sul do Brasil já reconheciam as propriedades estimulantes da planta e tinham até uma lenda sobre ela. Na lenda da erva-mate um velho guerreiro guarani sentia perder as forças com o passar dos anos e sua filha única recusava pedidos de casamento para cuidar dele. Apesar de triste com a situação de sua pequena família, um dia ele e sua filha abriram as portas para receber um estranho viajante, a quem ofereceram cantos e comida.

No dia seguinte, o viajante desconhecido se revelava mensageiro de Tupã e, grato pela bondade mostrada por pai e filha, ofereceu a eles a realização de qualquer desejo que tivessem. O velho então pediu que o mensageiro lhe desse de volta a força da juventude, pra que pudesse se cuidar sozinho e sua filha pudesse, enfim, se casar. O mensageiro então apresentou ao homem as folhas de uma certa planta, ensinou a cultivá-la e a preparar com ela uma infusão milagrosa. É isso aí, a tal poção que trouxe a vitalidade de volta para o velho índio nada mais era do que o bom e velho chá mate.

Créditos: Imagem de Capa de Robert Balog por Pixabay